Texto de badana da peça O Nariz de Cleópatra – Augusto Abelaira – Livraria Bertrand – 1962 [?]. Transcrito para efeitos de memória bibliográfica.
«Mudemos o desfecho da Guerra de Tróia, e mudará o mundo», tal é o atrevido postulado de três personagens do século XXIII, que já possuem foguetões capazes de regressar no tempo com o maior à-vontade. Assim fazem. Os Gregos são vencidos, enquanto a raça frígia passa a dominar o mundo. E então?
... Então, deixamos o leitor seguir, passo a passo, a demonstração, cheia de invenção cénica, de Augusto Abelaira, cujo tom satírico e enredo «boulevardier» não devem iludir. Aqui é discutido o valor real dos chamados factores históricos, dos exércitos, das cidades e dos impérios, para a realização do destino humano, aqui também se põe em relevo a importância do egoísmo e da fraternidade, da cobardia (até intelectual, como na peça anterior) e da coragem, da idolatria pelo poder e pelo dinheiro – e da necessidade de uma dignidade fundamental. Problemas muito actuais são transpostos para a Antiguidade, graças a um jogo, que lembra Pirandello, nos diversos planos do tempo, da realidade psicológica, e até do absurdo.
Apesar da importância dos temas abordados, a peça desenvolve-se toda neste ritmo de farsa desvairada próprio do autor, da fantasia à solta, percorrida, no entanto, por uma lógica inflexível, que vem a ser mais uma causa de riso. As personagens, caricaturais, são fantoches cegos e solenes que julgam mudar o destino, e só sabem esbracejar, satisfazendo o seu míope egoísmo e consumindo revoluçõezinhas irrisórias.
Pois a única mudança importante, a única válida – e eis outro eco, discreto mas profundo, de A Palavra é de Oiro – é a que irão realizar os infelizes, e que os redimirá.
«Mudemos o desfecho da Guerra de Tróia, e mudará o mundo», tal é o atrevido postulado de três personagens do século XXIII, que já possuem foguetões capazes de regressar no tempo com o maior à-vontade. Assim fazem. Os Gregos são vencidos, enquanto a raça frígia passa a dominar o mundo. E então?
... Então, deixamos o leitor seguir, passo a passo, a demonstração, cheia de invenção cénica, de Augusto Abelaira, cujo tom satírico e enredo «boulevardier» não devem iludir. Aqui é discutido o valor real dos chamados factores históricos, dos exércitos, das cidades e dos impérios, para a realização do destino humano, aqui também se põe em relevo a importância do egoísmo e da fraternidade, da cobardia (até intelectual, como na peça anterior) e da coragem, da idolatria pelo poder e pelo dinheiro – e da necessidade de uma dignidade fundamental. Problemas muito actuais são transpostos para a Antiguidade, graças a um jogo, que lembra Pirandello, nos diversos planos do tempo, da realidade psicológica, e até do absurdo.
Apesar da importância dos temas abordados, a peça desenvolve-se toda neste ritmo de farsa desvairada próprio do autor, da fantasia à solta, percorrida, no entanto, por uma lógica inflexível, que vem a ser mais uma causa de riso. As personagens, caricaturais, são fantoches cegos e solenes que julgam mudar o destino, e só sabem esbracejar, satisfazendo o seu míope egoísmo e consumindo revoluçõezinhas irrisórias.
Pois a única mudança importante, a única válida – e eis outro eco, discreto mas profundo, de A Palavra é de Oiro – é a que irão realizar os infelizes, e que os redimirá.