Artigo em Jornal de Letras e Artes, 13 de Junho de 1962, p. 15. Transcrito para efeitos de memória bibliográfica.
Um Português, Autor de Ficção Científica
Que é a ficção científica, a «science-fiction», conforme foi primeiramente designada em 1926 pelo norte-americano Hugo Gernsback, esse género literário que conquistou tão grande popularidade no mundo inteiro?
A expressão, no seu significado literal de «fantasia científica», não parece corresponder ao seu verdadeiro sentido, embora tenha criado raízes no público. Seria talvez mais adequado denominar «antecipação científica» a essa corrente literária, cultivada desde há séculos por escritores e filósofos como Platão, Cyrano de Bergerac, Voltaire, Edgar Poe, Júlio Verne, André Laurie, H. G. Wells e, modernamente, por nomes como Robert Heilein, Isaac Asimov, Van Vogt, Arthur C. Clark [sic], Will Jenkins, Th. Sturgeon, etc.
Na verdade, por muito fantasistas que sejam os seus relatos, têm sempre demonstrado, quando escritos por autores conscienciosos, a preocupação de não se afastarem do conteúdo real da Ciência, ainda mesmo quando parecem transcendê-la nas suas mais ousadas concepções; além de que podem eventualmente encaminhar os cientistas na senda de novas e fecundas descobertas.
Misto de realidade e de imaginação, que fornece um meio ideal de evasão inteligente da vida, este género literário conta grandes cientistas entre os seus mais fiéis leitores.
A sua popularidade deve-se, inegavelmente, ao interesse despertado pelas espantosas realizações da ciência e da técnica modernas, nesta época de «robots» e cérebros electrónicos, de foguetões e satélites artificiais, de energia atómica e de... discos voadores.
Mais do que as histórias policiais, possui um extraordinário poder de sedução, a que não faltam acção, aventura e emoções fortes. Distrai, mas também instrui, revelando ao leitor muitos factos que eram desconhecidos e, simultâneamente, representando o género mais variado no campo do pensamento humano.
Pois esta literatura tão interessante, tão cheia de actualidade num mundo que se prepara ambiciosamente para conquistar o Universo, não tinha até há pouco tempo, que saibamos, um representante nas letras portuguesas.
Deve-se esse mérito a Luís de Mesquita, que há poucos anos se estreou com a publicação de uma novela de antecipação denominada «Mensageiro do Espaço». Inexplicavelmente, essa obra não mereceu a menor referência da crítica. Apraz-nos, portanto, preencher essa lacuna. E fazemo-lo, pois não podemos deixar de louvar a perseverança, agora que, alheio a desânimos que seriam legítimos, vai publicar o seu segundo romance do mesmo género, intitulado «A Ameaça Cósmica».